quinta-feira, 30 de junho de 2011

A ética das Testemunhas de Jeová - Transfusão de sangue

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Uma das obrigações éticas das Testemunhas de Jeová é a proibição de receber ou doar sangue. Seus argumentos contra essa prática se baseam em afirmações científicas e bíblicas. Em seus argumentos científicos o mais famoso é a afirmação de que a transfusão de sangue é o mesmo que comer sangue, pois assemelha-se à alimentação intravenosa.

Já os argumentos bíblicos se baseiam em textos como Gênesis 9:4, Levítico 7:26,27; Atos 15:29 dentre outros.

Estes versículos são os primeiros de muitos das Escrituras que as Testemunhas de Jeová (TJ's) usam para advogar a proibição feita à transfusão de sangue. Como foi dito, confundem transfusão com alimentação.

As TJ's são muito radicais neste assunto. Elas preferem morrer a aceitar uma transfusão de sangue para repor o sangue perdido em uma operação ou em um acidente. E fazem o mesmo com respeito a seus filhos menores - a Sociedade Torre de Vigia (sede das TJ's, no Brooklyn), não havia promulgado essa doutrina até 1944.

Porém, nem os argumentos científicos muito menos os bíblicos dão base para proibição de transfusões de sangue. Por quê? Porque:

Em primeiro lugar, a maioria das TJ's ignoram que, no passado, sua liderança introduziu outras proibições médicas mudando de idéia mais tarde. Em 1967, por exemplo, eles proibiram o transplante de orgãos. Os seguidores deveriam preferir a cegueira à aceitar um transplante de córnea, ou morrer à se submeter a um transplante de rim. Mas, em 1980, os líderes reverteram este ensinamento permitindo os transplantes novamente [A Sentinela, 15/11/67, p. 702-704; Despertai!, 08/06/68, p. 21; A Sentinela, 15/03/80, p. 31, edições norte-americanas].

Além diso, entre os anos de 1931 e 1952, as TJ's recusaram-se a aceitar vacinação para si mesmas e para seus filhos, porque a organização ensinava que ''a vacinação é uma violação direta da aliança eterna estabelecida por Deus...'' [The Golden Age, 04/02/31, p. 293]

Embora as TJ's tentem citar as Escrituras para apoiar a sua posição contra a transfusão de sangue, a razão real desta posição é a obediência cega à Sociedade Torre de Vigia. Se a organização suspender esta proibição amanhã, as TJ's aceitarão livremente as transfusões, da mesma forma que fizeram vista grossa quando foi liberada a vacinação em 1952 e permitindo o transplante de orgãos em 1980.

Em segundo lugar, o apoio bíblico em Gênesis 9:4 e Levítico 7:26,27 para proibir as transfusões de sangue não funciona. Os judeus ortodoxos de hoje que ainda observam com muito escrúpulo as regras sobre as preparações dos alimentos de acordo com as leis judaicas, e sobre carne com sangue, e como matar os animais que servirão de alimentos, não tem nenhuma objeção contra as transfusões de sangue.

Em terceiro lugar, Gênesis e Levítico são livros que foram escritos por volta de 1.300 a.C., e Atos dos Apóstolos em torno de 50-55 d.C.; ou seja, o método médico de transfusões de sangue nem existia ainda. Então, é algo anacrônico a Bíblia fazer proibição de algo científico numa época pré-científica. É o mesmo que Jesus ter proibido o uso de relógios de pulso!

Em quarto lugar, transfusão de sangue não é o mesmo que alimentar-se de sangue.  Dito de forma simples, para obter nutrição a partir do sangue, seria necessário comê-lo ou digerí-lo, para que o organismo possa usá-lo como alimento. De uma transfusão de sangue não resulta NENHUM benefício nutritivo.

Os médicos não prescrevem transfusões de sangue para tratar a má nutrição, é antes, para substituir algo que o seu corpo perdeu, geralmente os glóbulos vermelhos que são necessários para transportar oxigênio e manter a pessoa viva. São dois sistemas totalmente diferentes, um é cardiovascular, o outro é digestivo.

Então, já que não é verdade que uma transfusão de sangue seja o mesmo que alimentar-se de sangue nem é equivalente a comer sangue, não existe o elo critico que seria necessário para apoiar científicamente e biblicamente a politica da sociedade Torre de Vigia.

Em quinto lugar, se as TJ's são proíbidas de comer/receber/doar sangue, deveriam ser proíbidas de amamentar os recém-nascidos também. Nos primeiros 15 dias de amamentação, o leite da mulher é chamado de colostro, é um leite diferente do materno, que alimenta o recém nascido por 15 dias até começar a ser produzido gradativamente o leite materno comum. O interessante no entanto, é que o leite colostro possui alguns dos componentes que o sangue possui, como leucócitos e imunoglobulinas, responsáveis por aumentar a imunidade da criança.

E finalnente, as TJ's são contraditórias em seu ensino. Dizem que o sangue é a vida (baseado em Gênesis 9:4), mas em I João 3:16 é dito que ''devemos dar a vida pelos irmãos''. Ou seja, pelo próprio raciocínio das TJ's, elas deveriam dar a vida (doar sangue) para os irmãos. Mas, ironicamente, não fazem. Seu ensino é contraditório!

Conclusão

Como foi visto, não há nenhuma base para a proibição de transfusões de sangue pelas TJ's. Tanto os argumentos médicos como os bíblicos falham. As TJ's não tem onde sustentar seu ensino.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Gênesis 1 e a Criação progressiva

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Normalmente, os cristãos são criticados por crerem em uma criação do mundo em seis dias de 24 horas (totalizando 144 horas de criação), como relatado em Gênesis capítulo 1. Os cristãos adeptos dessa visão da criação são denominados criacionistas da Terra jovem [1]. Porém, meu intuito nessa postagem é mostrar que não são todos os cristãos que creem na criação de seis dias, mas defendem que Gênesis 1 é compatível com a ciência moderna e sua datação para o Universo, sem ferir a interpretação do texto. Os que são adeptos dessa visão, são denominados progressistas, porque acreditam em uma criação progressisva, com longos períodos de tempo.

Ao contrário dos criacionistas da Terra Jovem, a visão progressista interpreta os dias de Gênesis como estágios sobrepostos de criação. Esse tempo de demora seria necessário para permitir que novas formas de vida fossem introduzidas no ecossistema e para este alcançar seu equilíbrio de acordo com as leis da natureza. Além disso, há diferentes limites de tempo de equilíbrio associados a cada ser que ia sendo criado, diretamente relacionadas com a complexidade e o tempo de reação para o ecossistema alcançar equilíbrio. À luz deste entendimento de Gênesis, vamos observar mais de perto o que pode ter ocorrido durante os seis estágios de criação.

O gráfico a seguir mostra as eclosões inteligentes da criação com novas formas de vida sendo introduzidas no ecossistema nos momentos precisamente  corretos do tempo - quando o ecossistema alcançou seu equilíbrio natural.


Como o gráfico indica, a ordem básica dos estágios da criação relatados em Gênesis 1 se enquadra muito bem na ordem da natureza mostrada pelo registro paleontológico e com as divisões geológicas de tempo.

Uma vez que a ciência é uma discíplina progresiva e que há váriações na interpretação de Gênesis 1, não se indica que a correlação seguinte seja definitiva ou final, mas meramente experimental ou plausível à vista das evidências atuais.

Os relatos dos acontecimentos em Gênesis 1 não se preocupa com os detalhes que um cientista consideraria importantes. Todavia, podemos seguramente presumir que as formas necessárias de vida e as condições atmosféricas foram sendo criadas para preparar o ecossistema da Terra para a criação de outras formas de vida previstas e enfim a vida humana.

No esboço que se segue, substituí os estágios de criação pelos dias da criação. Também procurei preencher algumas condições que mais provavelmente tinham de estar presentes do ponto de vista de um modelo que permite longos períodos de estruturas de tempo de criação sobrepostas.





Estágios 1–2:
O ''big bang'' marcou a criação do Universo espaço-tempo. O Criador produziu luz nas trevas numa simples e imensa explosão concentrada de energia. As órbitas dos elétrons decaíram e a energia começou a se condensar em matéria. Nesse estágio, o sistema solas e galáctico teriam tomado forma, constituindo a Via Láctea e inflamando o Sol, que começou a queimar como uma estrela de ordem principal. O Criador formou a Terra e o nosso sistema solar da nebulosa informe no espaço escuro, o que causou o contraste entre a luz e as trevas (Gn 1:1-5).

Estágios 2–3: Nesse espaço de tempo a Terra teria iniciado atividade vulcânica, e o vapor resultante teria começado a condensar-se. À medida que o planeta se esfriava, a água ter-se-ia acumulado formando um mar que cobria a superfície da Terra. Nesses estágios, os gases tóxicos da atividade vulcânica provavelmente dominaram a terra. O Criador assim formou a expansão (Gn 1:6-8) ou o espaço atmosférico (troposfera), que proporcionou uma atmosfera rica em oxigênio, e que fez com que o céu opaco (absorvedor de luz), se tornasse translúcido (difusor de luz).

Essa vastidão naturalmente teria resultado numa atmosfera com temperatura e diferenciais de pressão que produziam violentas tespestades elétricas, o que originou a camada de ozônio. As primeiras formas de vegetais unicelulares podem ter sido introduzidas no ecossistema dos mares nesse tempo: ''Contrários à opinião científica sustentadas atpe recentemente, os dados fósseis demonstram que a primeira vida vegetal simples apareceu imediatamente após a água líquida, não bilhões de anos mais tarde'' [2].

Estágios 3–4: Gênesis nos diz que a terra seca foi criada pela junção do mar numa só porção (Gn 1:9,10). Uma explicação plausível de ''onde'' a água foi colocada relaciona-se com a origem da Lua. Alguns cientistas especulam que outrora a Lua foi parte da Terra. Isaac Asimov disse que ''essa idéia é atraente, já que a Lua perfaz só um pouco mais que um por cento da massa combinada terra-lua e é pequena demais para repousar no extremo pacífico. Se a Lua fosse feita de camadas externas da Terra, explicaria o fato da Lua não ter nenhum núcleo de ferro e ser muito menos densa que a Terra e de o fundo do pacífico não ter granito continental'' [3].

Depois de formada a terra seca, as primeiras plantas da terra foram criadas (Gn 1:11-13). Durante esse tempo várias espécies vegetais, entre elas as plantas e as árvores, foram introduzidas no ecossistema. As plantas são a fonte primária de energia e alimento da Terra, produzindo-os por meio da fotossíntese. Por essa razão, a fotossíntese pode ter começado a ocorrer também nessa época, fortalecendo a atmosfera, já rica em oxigênio - que, por sua vez, intensificou o processo de fotossíntese.

À medida que a fotossíntese prosseguia, a água ia se decompondo, produzindo o oxigênio puro e criando o efeito estufa. Consequentemente, uma espessa camada de núvem se teria formado, cobrindo toda a Terra e um ciclo de água estável (evaporação e condensação) se estabeleceria também.

A vida vegetal requer que o ecossistema tenha microorganismos necessários (bactérias e fungos) e insetos (dois milhões de espécies conhecidas no reino animal) para haver equilíbrio devido. Os insetos e os outros organismos são essenciais para tarefas como oxigenação, fertilização, polinização e ações semelhantes. Além disso, o ecossistema agora precisaria de uma cadeia alimentar para manter seu equilíbrio.

A introdução de seres criados mais recentemente teria tirado o ecossistema de seu equilíbrio, portanto, foi necessário um ajuste fino, inclusive a quantidade certa de tempo de equilíbrio para o sistema de mudanças que conduzem a um novo período de estabilização Quando o ecossistema alcançou seu ponto de equilíbrio, a próxima ''eclosão da criação'' teria ocorrido.

Estágios 4–5: Uma vez que a atividade vulcânica tinha diminuído e a Terra esfriado, os níveis de dióxido de carbono teria diminuido juntamente com a cobertura de núvens. De forma correspondente, a atmosfera estabilizada (em relação à pressão e à temperatura) e o consumo de dióxido de carbono pelas plantas teriam exercido um papel chave no desanuviar do céu. Em consequência, o Sol pôde ser visto durante o dia, e a Lua e as estrelas durtante a noite (Gn 1:14-19).

A explosão cambriana mais provavelmente ocorreu nestes últimos estágios da criação. O Criador produziu uma copiosidade de vida aquática juntamente com um exército de vida animal minúscula e, provavelmente em direção ao final do estágio cinco, introduziu as ''grandes criaturas do mar'', entre eles os répteis, sendo o maior deles o dinossauro.

Depois de o ecossistema ter equlibrado essa enorme explosão de vida aquática, as primeiras aves verdadeiras parecem ter sido criadas quando a atmosfera e o ecossistema alcançaram uma temperatura razoavelmente estável (Gn 1:20-23). A estabilização das condições atmosféricas teria sido de importância crítica, pois as aves são criaturas de sangue quente e precisam gerar calor para manter o corpo aquecido para reagir às flutuações de temperatura do ambiente.

Estágios 5–6: Esses estágios entrelaçados preparariam o ecossistema para o propósito principal de ajuste fino do ambiente da terra: a criação da vida humana. próximo do fim do estágio cinco, o Criador criou os animais da terra e os mamíferos conhecidos como animais domésticos, juntamente com os animais selvagens (não domésticos) (Gn 1:24-27), Quando o ecossistema se ajustou para a introdução de vida animal e alcançou um certo nível de equilíbrio, mais provavelmente os mamíferos foram criados. Procurei me esforçar para explicar os estágios a seguir:

[o relato seguinte é um pouco intricado e deve ser acompanhado cuidadosamente. É importante ter tempo para entender a teminologia. Compreender os termos e suas relações ajudarão a trazer à luz a importância de aplicar os termos corretos para as espécies certas, sem tendências macroevolucionistas].

Há duas subclasses de mamíferos: os prototérios e os térios. os prototérios põem grandes ovos com muita gema. Entre eles há somente o ornitorrinco e os mamíferos que se alimentam de formigas. Embora tenham sangue quente, a temperatura do corpo deles é relativamente variável. Os térios consistem das subclasses metatérios e eutérios. os metatérios são mamíferos que têm uma bolsa abdominal, nas quais os filhotes recem-nascidos, em estado imaturo, se abrigam para completar o desenvolvimento.

Os exemplos modernos desses mamíferos são o canguru, o coala e o rato gigante da Índia. Finalmente, os eutérios são mamíferos cuos embriões se fixam num útero no corpo da mãe e se nutrem por meio de uma placenta. Com isso, os filhotes são plenamente protegidos e mantidos numa temperatura constante.

O nível progressivo da complexidade embrionária dos mamíferos dá algum vislumbre da ordem da cração indo em direção à humanidade. Embora os humanos sejam classificados como mamíferos eutérios, uma grande diversidade de outros mamíferos também o é. No grupo dos eutérios, entretanto, smente os primatas se distinguem ainda mais por polegares oponíveis (que permitem a destreza das mãos) e os hálux (dedo maior do pé) e olhos opositivos (para visão binocular).

Entre os primatas estão os macacos, os chimpanzés e os seres humanos. O gênero dos primatas que inclui os seres humanos é conhecido com Homo, e os macroevolucionistas classificam os seres humanos e todos os seus supostos ancestrais, segundo eles, numa família chamada hominídios. Porém, uma vez que a macroevolução não é um modelo de origens plausível, podemos dispensar essa extensão particular de termos e classificar a vida humana como uma espécie separada e distinta dos macacos e outros símios. Com essa explicação, a classificação própria dos seres humanos é Homo sapiens.

O Homo sapiens foi criado distintamente humano, e por essa razão o uso do termo sapiens. Sapiens vem de uma palavra latina que transmite a idéia de ter inteligência, discernimento e sabedoria. Tem que ver com a posse de capacidade intelectual de fazer juízo e de lidar com pessoas de maneira correta, isto é, de fazer escolhas éticas corretas.

Nem todos os macroevolucionistas acreditam que o Homo habilis e o Homo erectus foram ancestrais comuns. A citação seguinte é tirada do livro Evolution: challenge of the fossil record, de Duane Gish, cuja leitura recomendamos àqueles que têm interesse em saber mais sobre o assunto.

''Embora não admita nenhuma dúvida sobre o fato da evolução, Stephen J. Gould, paleontólogo da Universidade de havard, tem a dizer o seguinte a respeito desse estado de coisas:

'o que foi feito de nossa escada se há três linhagens co-existentes de hominídeos (...) nenhuma nitidamente derivada de outra? Além disso, nenhuma exibe tendência evolutiva alguma durante a permanência na terra: nenhuma fica mais inteligente nem mais ereta à medida que se aproxima dos dias atuais''' [4].

Gish prossegue citando a descoberta de outro macroevolucionista, Louis Leaky, que encontrou certos artefatos que levaram a uma única conclusão: O Homo habilis e o Homo erectus existiram contemporaneamente com o Homo sapiens. Gish diz:

''Se o Australopthecus, o Homo habilis e o Homo erectus existiram contemporaneamente, como poderia um ter sido ancestral do homem, quando os artefatos do homem são encontrados num nível estratigráfico mais baixo, imediatamente abaixo, e por isso anterior no tempo a esses supostos ancestrais dele? Se os fatos estão corretos como Leaky os relatou, então obviamente nenhuma dessas criaturas pode ter sido ancestral do homem, e isso deixa a árvore ancestral do homem desnuda'' [5]

Consequentemente, bem próximo ao final do estágio seis, uma vez o ecossistema plenamente ajustado com a adição dos mamíferos anteriores ao Homo sapiens, o Criador formou dois seres humanos e soprou vida neles. Eles foram feitos não somente como almas viventes com corpos, mas foram também altamente capacitados com faculdades espirituais, racionais, morais e volitivas.

Se a explicação dos estágios da criação mencionada anteriormente é precisa - e cremos que não há razão bíblica nem científica para questioná-la - então nos parece que a visão progressiva do modelo de projeto se harmoniza bem com todas as evidências da ciência.

Esse desenho é uma tentativa de reunir todos os dados numa visão geral concisa conforme apresentados pelo modelo progressivo. À medida que decompomos os fatores dos períodos de tempo entrelaçados, os dados começam a alinhar-se com os fatos conhecidos (inclusive o big-bang cosmológico) de modo a descrever todas as sequências e correlacioná-las com a ordem conhecida da natureza, com o aparecimento de novas formas de vida e com as eras geológicas.

Observe novamente como os estágios da criação permitem que novos seres recém-criados sejam introduzidos no ambiente, permitindo que o ecossistema atinja seu equilíbrio natural.



Depois de considerar cuidadosamente as evidências, a visão progressiva do modelo do projeto (ou algo semelhante) parece ser um modelo das origens viável. Três campos idependentes de estudo apóiam a sua integridade: a cosmologia, a biologia molecular e a paleontologia.

A visão progressista também se mostra coerente com os primeiros princípios, as leis da ciência e as evidências observáveis. Além do mais, satisfaz os critérios de uma boa teoria porque (1) descreve adequadamente uma grande classe de observações (a origem e a natureza do Universo, a origem e a natureza da vida, de novas formas de vida, e o registro fóssil) e (2) faz previsões sólidas a respeito das limitações genéticas de adaptação.

Conclusão

Como foi visto, o modelo progressita é plausível e está de acordo com as evidências. E ao contrário da opinião popular, Gênesis 1 e a ciência não estão em contradição.

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Referências

[1] Criacionistas da Terra jovem: Visão cristã que acredita em uma Terra de 6 mil a 10 mil anos.
[2] GERALD SCHROEDER, The Science of God, p. 68
[3] Isaac Asimov, Asimov's Guide to Science, p. 122
[4] Evolution, p. 171
[5] Buried Alive: the startling truth about neanderthal man, p. 166

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Deus e o Monstro do Espaguete Voador


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[Vez em outra um ateu desatualizado lança mão da objeção do ''Monstro do Espaguete Voador'', mesmo essa já estando ultrapassada. Mas, para fins práticos, nunca é demais postar sua refutação, para quem ainda não a conhece. Deixo aqui a refutação de William Lane Craig, que dá uma boa explanação sobre esse assunto]



Caro Professor Craig,

A defesa cumulativa da existência de Deus procede a partir de alguns dados (constantes físicas, existência das almas, testemunhos de milagres, etc.) que apontam para a existência de Deus como sendo a melhor explicação para estes dados. Existem, contudo, algumas objeções importantes. 1. Tal inferência não mostra porque o teísmo deva ser uma explicação melhor do que, digamos, a hipótese de um Monstro de Espaguete Voador muito poderoso. 2. Também não mostra porque algum ser maligno – algum ser poderoso e maléfico como, digamos, Satanás – não deva ser considerado uma explicação melhor do que Deus; especialmente quando a existência do mal é inclusa dos dados observados. Como você responderia a isto?

Obrigado.

Vlastimil



Resposta do Dr. Craig:


Sua questão é, na verdade, como os vários argumentos para a existência de Deus podem nos garantir inferências sobre a natureza deste Ser. Diferentes argumentos vão nos ajudar a inferir diferentes atributos, por isto a defesa da existência de Deus é, como você disse, cumulativa.

O muito amado Monstro de Espaguete Voador foi uma invenção de Bobby Henderson, que no verão de 2005 escreveu uma carta bem sarcástica à Secretaria de Educação do Estado do Kansas em protesto ao uso de adesivos em livros escolares que promoviam o Design Inteligente. Isto (ou ele, uma vez que o Monstro é um ser pessoal) se tornou uma sensação internacional.

Henderson usou o estranho monstro para parodiar a inferência a um Designer Inteligente para o universo. Ele escreveu assim, “Vamos lembrar que existem múltiplas teorias para o Designer Inteligente. Eu e muitos outros ao redor do mundo temos a forte convicção de que o universo foi criado por um Monstro de Espaguete Voador. Foi Ele quem criou tudo o que vemos e tudo o que sentimos”. Henderson afirmou conhecer um pouco sobre a natureza do Monstro de Espaguete Voador.

''…será proveitoso dizer a vocês um pouco sobre nossas crenças. Nós temos evidências de que o Monstro de Espaguete Voador criou o universo. Nenhum de nós, obviamente, tem capacidade de vê-lo, mas temos relatos escritos sobre Ele. Nós temos muitos volumes pesados explicando todos os detalhes de Seu poder… Ele é obviamente invisível e pode passar pela matéria comum com facilidade… Eu incluí abaixo um desenho artístico Dele criando uma montanha, árvores, e um anão.''



Como o desenho mostra, o Mostro é composto por duas grandes almôndegas envoltas por massa de espaguete, com dois grandes olhos no alto. É evidente que o Monstro de Espaguete Voador é um objeto físico finito que, por alguma razão não explicável, não é perceptível aos nossos sentidos.

Grande piada! Mas qual é seu objetivo? O que ela mostra? É notável o fato que a paródia de Henderson não diz nada sobre a legitimidade ou a necessidade de inferir um Designer Inteligente ao universo. Do contrário, o objetivo da paródia parece ser mostrar que nós não podemos conhecer muito, se é que podemos conhecer qualquer coisa, sobre a natureza do Designer. Portanto, é arbitrário reconhecer o Designer do universo como Deus, especialmente o Deus de alguma religião específica.

O que é curioso nesta paródia é que os teóricos do DI [Design Inteligente] como William Dembski têm insistido no mesmo ponto há anos, mas todos parecem ignorar isto. Dembski deixa bastante claro que, com base na complexidade específica do universo, ninguém pode inferir que o Designer seja infinito, onipotente, onisciente e onibelevolente. É especificamente por esta razão que os teóricos do DI negam que o DI seja apenas religião disfarçada. A identificação do Designer como Deus é uma conclusão teológica que não pode ser justificada por si só com base apenas no argumento do desígnio.

Dembski escreve,
Os teóricos do design não apresentam Deus, uma vez que o raciocínio da teoria do design não garante o ensino sobre Deus. O raciocínio da teoria do design nos diz que certos padrões encontrados na natureza apontam para um projeto inteligente. Mas não há nenhuma inferência que conduza, a partir destes padrões da natureza, ao Deus Criador infinito, pessoal e transcendente das principais fés teístas… Como cristão eu defendo que o Deus da visão cristã é a fonte última de desígnio por trás do universo… Mas não há nenhuma maneira de atingir tal conclusão a partir da física e biologia… Longe de estarem sendo desonestos, quando os teóricos do desing não apresentam Deus, eles agem assim porque se mantêm dentro do âmbito de aplicação de sua teoria. [“The Design Revolution”, p. 26]
Portanto, Dembski é inflexível ao fato de que as interpretações religiosas do Design Inteligente não deveriam ser ensinadas em escolas públicas. O próprio Dembski poderia ter apelado ao Monstro de Espaguete Voador para ilustrar seu ponto! Ironicamente, então, a paródia de Henderson na verdade reforça um dos pontos principais do movimento DI, de que o próprio não se trata de ensinamento religioso. A inferência a um Designer não é uma inferência a nenhuma deidade particular.

Isto não quer dizer que não podemos inferir nada sobre o Designer do universo com base na complexidade específica do cosmo. Podemos inferir, principalmente, que um ser pessoal, autoconsciente e volitivo de uma inconcebível inteligência foi quem projetou o universo. Se as pessoas realmente acreditarem que isto é verdade, elas ficariam de olhos e boca bem abertos com espanto, ao invés de zombarem e escarnecerem.

Além do mais, é razoável aceitar que qualquer explicação definitiva deva envolver um ser pessoal que é incorpóreo, porque quaisquer seres compostos de partes materiais exibem a mesma complexidade especificada que nós estamos tentando explicar. A velha objeção “Quem projetou o projetista?” inviabiliza assim qualquer construção de um Designer como um objeto físico (veja meu texto Richard Dawkins’ Argument for Atheism in The God Delusion). Isto imediatamente exclui o Monstro de Espaguete Voador como uma explicação final.

E o que dizer dos outros argumentos teístas? O argumento da contingência, se segue, prova a existência de um ser metafisicamente necessário, não-causado, atemporal, não-espacial, imaterial, e Criador pessoal do universo. O Monstro de Espaguete Voador também não pode ser a Razão Suficiente para todas as coisas existentes, uma vez que, como objeto físico (mesmo que invisível aos nossos sentidos) não pode ser nem metafisicamente necessário, nem atemporal, nem imaterial.

O argumento cosmológico kalam, se segue, nos dá bases para acreditar na existência de um ser que não teve um começo, não-causado, atemporal, não-espacial, imutável, imaterial, poderosamente grande, e Criador Pessoal do universo. De novo, um ser com tais atributos não pode ser algo como o Monstro de Espaguete Voador.

O argumento moral complementa os argumentos cosmológicos e de design ao nos dizer sobre a natureza moral no Criador do universo. Ele nos dá um ser pessoal e necessariamente existente que é perfeitamente bom, cuja natureza é o padrão de bondade e cujas ordens constituem valores morais. Este argumento exclui qualquer sugestão de que a explicação metafísica definitiva seja algum ser mal como Satanás. Como ausência do bem, o mal é apenas um parasita do Bem e assim não pode existir como o Ser maior.

E por fim o argumento ontológico nos dá razões para pensar que Deus, como o maior ser que pode ser concebido, é metafisicamente necessário e maximamente excelente, isto é, onipotente, onisciente e onibenevolente. O pobre Monstro de Espaguete Voador é, ai de mim!, deixado para comer poeira.

Eu acho que você consegue perceber que confia-se exageradamente no Monstro de Espaguete Voador, tanto como uma paródia como um ser. Como uma paródia, ele falha em mostrar que uma inferência a um Designer Inteligente para o universo é ilegítima ou injustificada. O que a paródia mostra é que nós não estamos justificados em atribuir aos nossos postulados explanatórios propriedades que não são justificadas pela evidência. Teólogos adeptos da Teologia Natural sempre souberam disto. Esta é a razão, por exemplo, de Tomás de Aquino, depois de seus cinco breves parágrafos em sua Suma Teológica que buscaram provar a existência do ser “que todos chama pelo nome ‘Deus’”, prossegue e discute a seguir nove questões sobre Deus: simplicidade, perfeição, bondade, infinidade, onipresença, imutabilidade, eternidade e unidade.

Como um ser, o Monstro de Espaguete Voador surge drasticamente deficiente como explanação destes fenômenos, alguns dos quais você lista, contradizendo já em sua base os argumentos para a existência de Deus. Estes argumentos, se todos seguem como eu penso que seguem, requerem cumulativamente um ser que é metafisicamente necessário, auto-existente, sem início, não-causado, atemporal, não-espacial, imaterial, pessoal, onipotente, onisciente, Criador e Projetista do universo, que é perfeitamente bom, cuja natureza é o padrão de bondade, e cujas ordens constituem valores morais.

A verdadeira razão que podemos tirar do caso do Mostro de Espaguete Voador é que ele mostra quão distante estão nossa cultura e a grande tradição da Teologia Natural. É como um idioma desconhecido. Estas pessoas que pensam que acreditar em Deus é como acreditar em um monstro de fantasia mostram o quão ignorantes elas são quanto a escritos de Anselmo, Aquino, Leibniz, Paley, Sorley e tantos outros do passado e do presente. Sem dúvida parte da culpa cabe aos cristãos igualmente ignorantes que não tem uma resposta para dar quando são convidados a dar a razão da esperança que eles têm e, portanto, passam a impressão de que sua fé é arbitraria ou sem fundamento. Parte também deve ser atribuída a educação deficiente, preguiça intelectual, e uma falta de curiosidade. Dado o renascimento da Teologia Natural em nossos de meio século para cá, não há desculpa para que tais caricaturas coxas da crença teísta como o Monstro do Espaguete Voador surjam.

Fonte: http://www.reasonablefaith.org

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Porque não guardo o Sábado


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Evidentemente, não tenho nenhum preconceito contra o Adventismo, pelo simples fato de seus adeptos guardarem o sábado. Mas questiono o Adventismo pelo fato de fazer desse ensino um cavalo de batalha contra as igrejas que têm o Domingo como dia de repouso semanal.

Vamos examinar em três etapas porque nós (a Igreja) não temos a obrigação de guardar o sábado.

• (1) A guarda do Sábado foi um mandamento exclusivo para Israel

Assim diz Deuteronômio 5:15:

''Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado''

Exôdo 31:13:

''Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis os meus sábados, porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que os santifica''

Êxodo 31:16,17:

''Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e restaurou-se''

Temos de fazer três perguntas aos adventistas diante desse texto:

• Quem foi servo na terra do Egito (Dt 5:15)?
• A quem Moisés deveria dar ordem para guardar o sábado (Êx 31:13)?
• O sábado era um sinal entre Deus e quem (Êx 31:16,17)?

É óbvio que é ISRAEL!

Será difícil compreender isso?

• (2) O sábado foi dado como uma representação do Cristo que estava por vir

Conforme Colossenses 2:16,17:

''Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombra das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.''

De acordo com o apóstolo Paulo, o sábado estava na condição de ''sombra das coisas futuras''. A observância do sábado estava associado à redenção em Deuteronômio 5:15. O sábado era uma sombra da redenção que seria dada em Cristo.

Simbolizava o descanço de nossos trabalhos e a nossa entrada no repouso de Deus, dada através da obra consumada por ele.[1]

Sendo assim, não há motivos para continuar sua observância.

• (3) Não há mandamento no Novo Testamento para guardarmos o sábado

Dos 10 mandamentos registrados em Êxodo 20, o Novo Testamento ratifica apenas nove, excetuando o quarto (a guarda do sábado). Por exemplo, compare os mandamentos a seguir.

(1) ''Não terás outros deuses diante de mim'' (Êxodo 20:3) - No Novo Testamento: Atos 14:15;
(2) ''Não farás para ti imagem de escultura'' (Êxodo 20:4) - No Novo Testamento: I João 5:21;
(3) ''Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão'' (Êxodo 20:7) - No Novo Testamento: Tiago 5:12;
(4) ''Lembra-te do dia de sábado para o santificar'' (Êxodo 20:8) - No Novo Testamento (Não há este mandamento no NT);
(5) '' Honra teu pai e tua mãe'' (Êxodo 20:12) - No Novo Testamento:  Efésios 6:1;
(6) ''Não matarás'' (Êxodo 20:13) - No Novo Testamento: Romanos: 13:9;
(7) ''Não adulterarás'' (Êxodo 20:14) - No Novo Testamento Romanos: 13:9
(8) ''Não furtarás'' (Êxodo 20:15) - No Novo Testamento Romanos: 13:9
(9) ''Não dirás falso testemunho'' (Êxodo 20:16) - No Novo Testamento: Colossenses 3:9;
(10) ''Não cobiçarás'' (Êxodo 20:17) - No Novo Testamento: Romanos 13:9.

Além disso, o Novo Testamento repete pelo menos:

• 50 vezes o dever de adorar somente a Deus
• 12 vezes a advertência contra a idolatria
• 4 vezes a advertência para não tomar o nome do Senhor em vão
• 6 vezes a advertência contra o homicídio
• 12 vezes a advertência contra o adultério
• 6 vezes a advertência contra o furto
• 4 vezes a advertência contra o falso testemunho
• 9 vezes a advertência contra a cobiça
• Em NENHUM lugar o Novo Testamento, no entanto, é encontrado o mandamento de guardar o sábado.

Diante disso, podemos até imaginar um diálogo hipotético com um adventista:

• ADVENTISTA: Por que vocês não guardam o sábado? Não sabem que Deus descansou e santificou esse dia? Vocês estão quebrando um mandamento de Deus!

• REFUTADOR: Não guardo o sábado por pelo menos três moivos: Primeiro, ele foi um mandamento EXCLUSIVO para Israel (conforme Ex 31:13,16,17; Dt 5:15). Segundo, o sábado, juntamente com outras festas judaicas, era uma ''sombra'' de Cristo (conforme Cl 2:16,17). E finalmente, não guardo o sábado porque o Novo Testamento não o ratifica. Ao contrário dos outros 9 mandamentos, que aparecem em diversas partes por todo o Novo Testamento. Entendeu?


Conclusão

Como foi visto neste artigo, a guarda do sábado não é obrigatoriedade para a Igreja, como foi para a nação de Israel nos tempos do Antigo Testamento. Não há nada de errado em guardá-lo, como fazem oa adventistas, mas, há algo extremamente errado em querer impor o sábado como uma OBRIGAÇÃO, sendo que as Escrituras não ensinam isso.


________________________________
Referências

[1] NORMAN GEISLER & RON RHODES, Respostas às Seitas.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dragão na Garagem (Carl Sagan)


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Por: Snowball.


O Dragão na Garagem origina-se de um texto escrito por Carl Sagan. Hoje, muitos neo-ateus e outras “saganetes” utilizam uma técnica que bebe diretamente na idéia oferecida pelo autor no tal texto. Dois textos já davam uma boa idéia para o que responder ao Dragão – Por que não o Monstro do Espaguete Voador? e a série Papai Noel, Fada do Dente e Deus – Parte 01 –, mas vamos lá de novo.

A história vai assim: alguém ALEGA para outra pessoa que possui um Dragão na sua garagem. O outro vai até lá e não vê nada. Ele sugere alguns testes, mas a primeira pessoa tem alguma desculpa para os testes não funcionarem. Dessa forma, no fim, fica impossível verificar se o Dragão existe ou não. A conclusão retirada pelo neo-ateu é que se trata do mesmo caso para a existência de Deus.

O primeiro erro crasso da história é fazer uma analogia entre um ser FÍSICO por definição (um dragão) e um ser metafísico – Deus. Essa é a falácia da Inversão de Planos. A alegação da existência de algo físico é verificada empiricamente. Já a discussão sobre a existência de algo metafísico é discutido no plano FILOSÓFICO, que está um nível acima do científico. Nesse caso, a ausência de evidências empíricas esperadas para algo empírico é suficiente para dizer que esse algo não existe.

Claro que a refutação, seguindo a linha da história de Sagan, que vem em 95% dos casos é: “Mas esse Dragão não é um Dragão comum; é um Dragão imaterial e espiritual”. Mas um ser que não tenha forma nem características físicas pode sequer ser chamado de Dragão? Esse é o estratagema erístico da Distinção de Emergência. Palavras e nomes não surgem sem causa do nada; eles se referem a entes específicos de acordo com a necessidade de indicar historicamente, sendo que cada nome possibilita o entendimento e a diferenciação dos entes. E o que diferencia os seres físicos um dos outros são suas características essenciais de forma e etc. Como sabemos que uma flor não é uma pedra? Pelas suas características físicas. Mas se um ente X perde TODAS suas características físicas, como ainda podemos chamá-lo pelo seu nome físico? Essa seria uma violação absurda de qualquer noção de identidade.
Então se ele alegou que era um Dragão com “fogo” e “ventas", deveria ser físico; se não é físico, então é outra coisa e a história já poderia terminar por aí.

Nessa hora, ele pode desistir de chamá-lo de Dragão e dizer: “Ok, realmente não tem lógica chamar um ser imaterial de Dragão. Mas como você sabe que não existe algo imaterial na minha garagem?”.

Como eu expliquei, aí entramos em uma discussão que é filosófica, não científica. E temos que providenciar justificativas filosóficas para a alegação. A resposta deveria ser uma de três: “(a) Eu sei que não há, porque eu tenho argumentos CONTRA a existência do ser sem forma imaterial na sua garagem;” “(b) Eu não sei se há, pois eu não tenho argumentos contra, nem a favor;” “(c) Eu sei que há, pois eu tenho argumentos a favor da existência desse ser;”.

No caso de Deus, temos livros e livros de filosofia que tratam da racionalidade da crença em Deus e da Sua existência. E o ser sem forma e imaterial na garagem dele? Fica difícil citar qualquer livro na história da Filosofia falando do pseudo-Dragão na garagem. Só por aí já dá para ver que a situação epistêmica para o conhecimento de Deus é DIFERENTE para o conhecimento do pseudo-Dragão. Logo, o pseudo-Dragão NÃO pode ser comparado a Deus.

Detalhe que esse sequer é um argumento CONTRA a existência de Deus. No máximo, teríamos que adotar uma postura agnóstica sobre o assunto até ter justificativa contra. Mas talvez o objetivo fosse dizer que a crença em Deus é injustificada do ponto de vista do conhecimento e algo como “alegações que não podem ser testadas e afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico”.
Mas como foi visto, tal idéia é falsa.

EXISTE uma base para justificar a crença em Deus. Da mesma forma, também não é verdade que toda crença sem justificativa ou irrefutável é injustificada ou “não possui caráter verídico”.

Eu tenho várias crenças que não posso justificar, mas nem por isso elas são irracionais. Por exemplo: não posso provar que existem outras mentes em outras pessoas. Não posso provar que o mundo externo realmente existe – no máximo, posso adotar isso como uma postura prática.

E por isso, eu devo achar que a alegação “outras mentes existem” não tem valor de verdade? Dificilmente. Essa é uma crença que tenho, que faz sentido com minhas experiências e que, mesmo não tendo justificativa, é útil para meu entendimento do mundo. Não há nada de irracional em aceitar essa idéia e muito menos em acreditar que só porque não tenho uma prova disso ela é falsa.
Enfim, os pontos principais:

Conclusão

O estratagema falha em todos os pontos. O que se dá para tirar daí é que a mentalidade cientificista ainda anda em voga e que o básico de filosofia já é um bom antídoto contra esses erros.

Fonte: quebrandooneoateismo.com.br

terça-feira, 21 de junho de 2011

Jesus é o Servo Sofredor

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A crença judaica atual sobre Jesus (ver historicidade de Jesus) é que ele foi apenas um mestre que enganou o povo, e que foi crucificado a mando de Pôncio Pilatos por causa de suas blasfêmias e mentiras. Por causa disso, a teologia judaica tradicional não aplica a Jesus nenhuma profecia do Antigo Testamento, como o fazem os cristãos.

Nesse post, veremos que as profecias do Antigo Testamento previam a chegada de um ''servo sofredor'', que morreria pelos pecados dos homens. E que essas passagens proféticas só podem ter seu cumprimento na vida e ministério de Jesus.

Começando com o primeiro ''Cântico do Servo Sofredor'', no capítulo 42 de Isaías, observamos as seguintes características a respeito do Servo:

(a) Ele é escolhido pelo SENHOR, ungido pelo Espírito e recebe a promessa de sucesso na empreitada (Isaías 42:1,2);
(b) A justiça é uma preocupação fundamental em seu ministério (Isaías 42:1,4);
(c) Seu ministério tem uma abrangência internacional (Isaías 42:1,6);
(d) Deus o predestinou para o seu chamado (Isaías 49:1);
(e) Ele é um mestre talentoso (Isaías 49:2);
(f) Ele enfrenta desânimo em seu ministério (Isaías 49:4);
(g) Seu ministério estende-se aos gentios (Isaías 49:6);
(h) O servo encontra forte oposição e resistência aos seus ensinamentos, até mesmo de natureza violenta (Isaías 50:4-6);
(i) Ele estava determinado a completar aquilo que Deus o chamou para fazer (Isaías 50:7);
(j) O servo tem origens humildes, com poucas possibilidades exteriores de sucesso (Isaías 53:1,2);
(k) Ele experimenta sofrimento e aflição (Isaías 53:3);
(l) O servo aceita o sofrimento vicário em favor de seu povo (Isaías 53:4-6,12);
(m) Ele é morto depois de ter sido condenado (Isaías 53:7-9);
(n) Incrivelmente, ele volta a vida e é exaldado acima de todos os governantes (Isaías 53:10-12; 52:13-15).

Além dessas observações, nota-se que o servo também não teve pecado (Isaías 53:9).

Uma simples leitura superficial dessas passagens deveria deixar poucas dúvidas de que o Servo Sofredor é Jesus. De fato, a interpretação judaica tradicional das passagens do Servo era que elas prediziam o Messias que estava por vir.

Entretanto, quando os judeus começaram a ter contato com apologistas cristãos cerca de mil anos atrás, reinterpretaram o Servo Sofredor como sendo a nação de Israel. O primeiro judeu a afirmar que o Servo Sofredor era a nação de Israel, em vez do Messias, foi Shlomo Yitzchak, mas conhecido por Rashi (1040-1105 d.C). Atualmente a visão de Rashi domina a telogia judaica.

Infelizmente, para Rashi e para muitos teólogos muçulmanos atuais, existêm pelo menos três erros fatais quando à afirmação de que Israel é o Servo Sofredor.

Em primeiro lugar, diferentemente de Israel, o Servo Sofredor não tem pecado (Isaías 53:9). Dizer que Israel é sem pecado é contradizer e negar praticamente todo o Antigo Testamento. O tema recorrente no Antigo Testamento é que Israel pecou ao quebrar os mandamentos de Deus e buscar outros deuses, em vez de seguir o único e verdadeiro Deus.

Se Israel não tinha pecados então por que Deus conferiu aos judeus um sistema sacrificial? Por que tinham um Dia da Expiação? Por que precisaram constantemente de profetas para advertí-los e pararem de pecar e se voltarem a Deus?

Em segundo lugar, diferentemente de Israel, o Servo Sofredor é um cordeiro que se submete sem nenhuma resistência que seja (Isaías 53:4-6, 8, 10-12). A história nos mostra que Israel certamente não é um cordeiro - ela não afirma isso com relação a ninguém.

Em terceiro lugar, diferentemente de Israel, o Servo Sofredor morre em expiação substituitiva pelos pecados dos outros (isaías 53:4-6,8,10-12). Mas Israel não morreu nem está pagando pelos pecados dos outros. Ninguém é redimido em função daquilo que Israel faz. Nações e os indivíduos que as compõem são punidos por seus próprios pecados.

Se Isaías fosse a única passagem profética do Antigo Testamento, já seria suficiente para demonstrar a natureza divina pelo menos do livro de Isaías. Mas existem várias outras passagens do Antigo Testamento que predizem a vinda de Jesus Cristo, ou são, por fim, cumpridas por ele. Vejamos algumas:

• É da desdendencia [semente] da mulher (Gênesis 3:15);
•  É da descendência de Abraão (Gênesis 12:1-3);
• É da tribo de Judá (Gênesis 49:10);
• É da linhagem de Davi (Jeremias 23:5,6);
• É tanto Deus quanto homem (Isaías 9:6);
• Nasceu em Belém (Miquéias 5:2);
• Foi precedido por um mensageiro e visitou o Templo antes de ser destruído em 70 d.C. (Miquéias 3:1);
• Ressucitou dos mortos (Isaías 53:11).

Jesus Cristo de Nazaré é o único candidato possível. Somente ele se encaixa em todas as profecias.

Conclusão

Como vimos, há uma falha grave na interpretação judaica das profecias do Antigo Testamento. Primeiramente porque há uma predisposição em não aceitar que o Jesus difamado pelo Talmude seja o Servo Sofredor predito pelo profeta Isaías. E falha também em querer atribuir a si tais profecias, como fez Rashi. Jesus é o único que cumpre tais profecias cabalmente.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A diferença entre os dois Concertos

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Há uma certa confusão no Adventismo do Sétimo Dia, quando se trata sobre a Nova Aliança feita por meio de Jesus Cristo, entre Deus e os homens.

Eles teimam em afirmar que o concerto que Deus fez com Israel, quando os tirou da terra do Egito, por meio de Moisés, ainda vigora para nós, considerados a Igreja. Para esclarecer esse ponto, resolvi neste post tratar sobre essa idéia errônea dos adventistas.

Para tanto, essa postagem será dividida em quatro tópicos: o primeiro sobre o velho concerto, feito através de Moisés para o povo de Israel; o segundo, será as profecias sobre a chegada de um novo concerto;  o terceiro tópico, tratará sobre a abolição do anigo concerto, e finalmente o quarto, tratará sobre o estabelecimento da Nova Aliança.

• (1) O Concerto feito com Israel

Quando Deus tirou o povo de Israel da escravidão do Egito, Ele, por meio de Moisés, estabeleceu um concerto, uma aliança com eles, de que os estava tomando como povo particular. Mas esse Concerto/Aliança, é EXCLUSIVAMENTE para Israel, como veremos nos textos a seguir.

a) Êxodo 24:7,8: ''E [Moisés] tomou o livro do concerto e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o SENHOR tem falado faremos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o espargiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do concerto que o SENHOR tem feito convosco sobre todas estas palavras''

b) Êxodo 34:27,28: ''Disse mais o SENHOR a Moisés: Escreve estas palavras; porque, conforme o teor destas palavras, tenho feito concerto contigo e com Israel. E esteve Moisés ali com o SENHOR (...) e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os dez Mandamentos''

c) Deuteronômio 4:12,13: ''Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes semelhança nenhuma. Então, vos anunciou ele o seu concerto que vos prescreveu, os dez mandamentos e os escreveu em duas tábuas de pedra''

d) II Crônicas 5:10: ''Na arca, não havia senão as duas tábuas que Moisés tinha posto junto a Horebe, quando o SENHOR fez concerto com os filhos de Israel, saindo eles do Egito''

e) II Crônicas 6:11: ''E pus nela a arca em que está o concerto que o SENHOR fez com os filhos de Israel''

Como foi visto,o primeiro concerto foi exclusivo para o povo de Israel.

• (2) A abolição do Antigo Concerto profetizada, e a predição sobre a vinda de um novo

Como nos tratados humanos, uma das duas partes envolvidas no acordo pode quebrá-lo, ou invalida-lo, e foi exatamente isso o que levou à predição de um novo concerto: Israel havia violado a aliança com Deus por causa de sua rebeldia.

Veja o que diz o SENHOR através do profeta Jeremias:

''Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. Mas este é o concerto que eu farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinará mais alguém o seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o SENHOR, porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados'' [Jeremias 31:31-34]

Essa passagem nos mostra três coisas importantes:

• Israel havia invalidado o concerto feito entre Deus e eles;
• Dias iriam chegar, onde uma Nova Aliança seria instituída;
• Essa Nova Aliança não seria como a Velha (aquela veio escrita em pedra, esta, viria escrita na mente e no coração).

• (3) A abolição do Antigo Concerto

As passagem a seguir mostram a abolição do Antigo Concerto.

a) II Coríntios 3:6-9: ''O qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Concerto, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica. E, se o ministério da morte gravado com letras em pedras, veio em glória (...) como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.''

b) Hebreus 7:18,19: ''Porque o precedente mandamento é abrrogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus''

• (4) O Novo Concerto

Após vermos o concerto de Deus com Israel, a profecia de sua abolição e sua abolição confirmada, vejamos agora o estabelecimento do Novo Concerto, que veio através da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

a) Mateus 26:28: ''Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Concerto, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados''

b) Hebreus 7:22: ''De tanto melhor concerto Jesus foi feito Mediador''

c) Hebreus 8:6: ''Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas.''

d) Hebreus 9:15: ''Por isto é Mediador de um novo concerto...''

E o autor de Hebreus, no capítulo 10, diz que a profecia de Jeremias sobre a abolição do velho concerto e a vinda de um novo, tem seu cumprimento pela morte e ressurreição de Cristo:


''E assim, todo sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus. Daqui em diante esperando até que seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados. E também o Espírito Santo no-lo testifica, porque, depois de haver dito: Este é o concerto que farei com eles depois daeueles dias, diz o SENHOR: porei as minhas leis em seu coração e as escreverei em seus entendimentos, acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais reissão pelo pecado'' (Hebreus 10:11-18).

Portanto, Deus estabeleceu um Novo Concerto por meio de Jesus Cristo.

Mas, os Adventistas podem não aceitar todos essas passagens e objetar que então, segue-se que ficamos sem lei alguma. Entretanto, Romanos 6:14-16 lhes fornece a resposta:

''Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei mas debaixo da graça? De modo nenhum! Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?''


Sendo assim, a objeção de que ficamos sem lei não funciona.

Também podemos chamar esse Novo Concerto de lei da fé (Romanos 3:27), lei da graça (Romanos 6:15)); lei do Espírito (Romanos 8:2); lei de Cristo (I Coríntios 9:21; Gl 6:2); ministério do Espírito e da justiça (II Ciríntios 3:8,9).

Conclusão

Como visto neste artigo, a crença adventista na supremacia da lei mosaica é infundada bíblicamente. O Velho concerto foi exclusivamente para Israel, e este foi abolido e substituído por um concerto mais excelente, tendo como Mediador o próprio Cristo.

domingo, 19 de junho de 2011

Cinco maneiras de identificar uma seita

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Estarei mostrando nesta postagem algumas formas de identificarmos uma seita, quando nos depararmos com um de seus adeptos e ensinos distorcidos.

É fato que muitas pessoas já foram enganadas por não estarem preparadas, por isso, é de extrema importância que saibamos identificar um ensino genuino de um ensino errôneo, assim como somos tão bem treinados em identificar, em diversas facetas da nossa vida, algo falso e verdadeiro.

Nem todas as seitas se encaixam nas cinco identificações. Umas sim, outras não. É possível identificar uma seita, por exemplo, somente por um item, já que o Cristianismo ortodoxo, da qual elas divergem, não se encaixa em nenhuma dessas características. Ou seja, para reconhecer um grupo religioso como uma seita, não é necessário que ele se encaixe nas cinco identificações.

Vejamos cinco modos de identificarmos uma seita caso nos deparemos com uma.

• (1) Normalmente são proselitistas

O proselitismo é o intento, o zelo, a diligência, o empenho ativista de converter uma ou várias pessoas a uma determinada causa, idéia ou religião.

Nem todas as seitas são proselitistas. Alguma seitas (como as orientais, por exemplo), nem sempre saem de porta-em-porta divulgando suas crenças, como o fazem as Testemunhas de Jeová e os Mórmons. A Nova Era é proselitista, mas não vemos seus adeptos distribuindo literaturas para nós. Porém, tentam nos persuadir através de livros, artigos, pela TV, Internet e outros meios.

• (2) Suas crenças se baseiam em um líder carismático, que supostamente recebeu uma ''nova revelação''


Essa é outra característica importante para sabermos se estamos lidando com uma seita ou não. Onde se baseiam as crenças dela? Normalmente - quase sempre - suas convicções religiosas estão fundamentadas nos ensinamentos de seu fundador, ensinamentos estes que provieram de ''revelações'' vindas de Deus.

Por exemplo: As doutrinas dos Mórmons se baseiam nas ''revelações'' recebidas pelo fundador do Mormonismo - Joseph Smith Jr. O Adventismo do Sétimo Dia tem suas crenças fundamentadas - ainda que afirmem que seja na Bíblia somente - nas ''revelações'' da profetiza Elen G. White.

A seita oriental Seicho-No-Iê, foi fundada devido às ''revelações'' recebidas por Masaharu Tanigushi. O Espíritismo vem das revelações de espíritos feitas ao francês Hyppolyte Léon Denizard Rivail e muitas outras tem suas bases nessas supostas revelações divinas.

• (3) Não consideram a Bíblia como única regra de fé

Outra importante característica das seitas é que elas desvalorizam as Escrituras como suficiente para bases doutrinárias. Geralmente a Bíblia fica em segundo plano em seus ensinos e/ou é substituída por outro tipo de literatura.

Por exemplo: A seita Ciência Cristã diz que a Bíblia só pode ser corretamente interpretada com a ajuda do livro Ciência e Saúde com as Chaves das Escrituras, de Mary Eddy, sua fundadora. O mesmo afirmam as Testamunhas de Jeová, dizendo que só com as edições das revistas Despertai!, Sentinela, e outras, a Bíblia pode ser entendida.

Os Mórmons afirmam  que a Bíblia está cheia de erros, e que somente o Livro Mórmon é a Palavra de Deus. Os espíritas preferem deixar a Bíblia em segundo plano e ficar com O Evangelho Segundo o Espíritismo.

Como você pode ver, essa é uma característica bastante notável em uma seita. Fácil de identificação.

• (4) Idéias erradas acerca de Jesus Cristo

Essa é uma características que expõe logo de cara se determinado grupo religioso é uma seita ou não - o que eles pensam a respeito de Cristo.

As seitas tem por costume desvalorizar a pessoa, a divindade e a obra sacrificial de Cristo. Desprezam sua singularidade e divindade ensinadas por toda Escritura. Vejamos alguns exemplos:

• Mormonismo: Jesus é um entre muitos deuses, inclusive, consideram ele um irmão de Lúcifer;
• Adventismo do Sétimo Dia: Jesus é o arcanjo Miguel;
• Testemunhas de Jeová: Jesus é uma criação de Deus;
• Espíritismo: Jesus é um espírito evoluído;
• Nova era: Jesus é uma ''idéia cósmica'';

E etc, etc.

• (5) A salvação vem através de nossos esforços

As seitas não consideram a salvação somente pela graça, como ensinado nas Escrituras, mas, sim, por meio de nossos próprios esforços.

As diversas seitas orientais, por exemplo, tem diversos rituais que são necessários à salvação do indivíduo. As seitas ocidentais, como o Adventismo do Sétimo Dia, afirma que guardar o sábado é essencial à salvação. As Testemunhas de Jeová tem que dedicar horas semanais à Organização, para ser considerados ''servos fiéis''.

O Espíritismo enfatiza a caridade como essencial para ajudar o indivíduo em suas reencarnações, e o Mormonismo, afirma que sua salvação é obtida pelas obras efetuadas dentro do grupo.

Todas as seitas enfatizam que as ''boas obras'' (o que varia grandemente de uma seita para outra) é a essência da salvação, ao contrário do ensinamento cristão ortodoxo, que ensina a salvação pela graça somente, por meio da fé em Cristo.

Conclusão

Essas não são as únicas características para se identificar uma seita, mas são as principais. Agora que você já as conhece, pode se previnir de cair em seus enganos.

sábado, 18 de junho de 2011

Paradoxo de Epicuro/Problema do Mal – Parte III (algumas observações)


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                                                                                                         Agradecimentos a Snowball.

Esse é o último post da série sobre o Paradoxo de Epicuro que – acredito eu – deu um panorama do essencial sobre o problema.

Aproveito para fazer mais duas observações que deixei de fora dos posts originais, mas que são interessantes. A primeira é a respeito do problema lógico e a segunda do problema probabilístico.

Sobre o problema lógico, alguns levantam a questão do Céu. Não seria ele um mundo possível onde as pessoas nunca fazem nada de ruim? Então, nesse caso, temos liberdade ou não?

Temos duas respostas e as duas são aceitáveis.

Pode ser que tenhamos liberdade. Mas talvez só seja possível criar um mundo de criaturas sem os “contrafactuais” ruins com uma etapa de seleção anterior (como essa seria). Poderia ser, por exemplo, que só pessoas que entrem livremente numa relação completa de amor com Deus consigam causar-se para não cometer atos maus mesmo com uma liberdade significante. Como Deus dá a opção de entrar ou não nessa relação, seria preciso essa “etapa” para criar um mundo livre sem tais contrafactuais. Se é possível, então ainda não há erros.

No segundo caso, pode ser também que seja o caso de perdemos a liberdade de alguma forma. As pessoas, nesse caso, poderiam fazer o sacrífico de parte de sua liberdade para viver com Deus. Mas o sacrífico seria voluntário para os que querem estar lá. Deus dá a liberdade, mas as pessoas podem optar não tê-la (o que seria diferente de Deus tirar a liberdade, é bom frisar) em “troca” de algo.

Então essa objeção também falha.

Sobre o problema probabílistico, gostaria de elencar algumas justificativas teológicas (do Cristianismo) para o a existência do Mal que ajudariam a deixar mais clara alguns pontos. Utilizarei como base um artigo do Reasonable Faith. Seriam elas:

a. A moralidade de Deus não é igual a moralidade dada aos humanos: Muitos expressam o sentimento de que Deus não poderia determinar a morte de uma pessoa ou permitir o uso do sofrimento. A analogia usada é quase sempre é de um pai que mata um filho. Mas a analogia é falsa. Um pai e um filho estão no mesmo nível ontológico, pois são seres de mesma estatura (seres humanos). O pai só deu origem a outro ser humano, mas não pode dispor dos direitos dele. Já Deus é superior: Ele é o senhor da vida e da morte, então teria o direito de decidir sobre elas (basta lembrar que pessoas, quando discutimos pena de morte, não raro expressam essa idéia dizendo “O quê? Eles pensam que são o que para decidir sobre a vida dos outros? Deus?” ou ainda quando alguém falece: “Bom, Deus devia saber que essa era o melhor momento de levar ele”.) E, considerando a idéia de que Deus determinou a criação, ele nos fez mortais: nós iriamos morrer de qualquer jeito. Então se ele determinasse que prefere que uma pessoa viva 65 anos ao invés de 80 não haveria problema. Só um materialista pode julgar como pior das coisas a morte de uma pessoa, pois no materialismo essa é a nossa única chance e fim; mas se Deus existe, obviamente esse não é o caso.

b. O propósito da vida não é a felicidade terrena, mas conhecer Deus: um dos problemas com o Paradoxo é a tendência de achar que o propósito de Deus é criar felicidade para os humanos na Terra. Então se o mundo não é uma maravilha cor de rosa, onde eu tenho tudo que quero, AQUI e AGORA, significa que Deus (meu “call-center” preferido") não existe. A mentalidade moderna de “direitos” (todo mundo tem o direito de exigir qualquer coisa, por mais absurda que seja) e do “o importante é ser feliz” não possivelmente pode ter agravado esse pensamento. Mas no Cristianismo, isso é falso. Nós não somos os “cachorrinhos poodle” de Deus e a meta não é a felicidade nesse mundo, mas o livre conhecimento de Deus, que representa, em última instância, a maior e mais perfeita felicidade e completude humana de todas. Então momentos de dificuldade e tristeza na nossa vida podem ser justificadas como uma forma de baixarmos a guarda e nos reaproximarmos de Deus de forma mais estreita e duradoura o que, no fim das contas, é a melhor das coisas.

c. Conhecer Deus é o maior bem de todos: Conhecer Deus, uma fonte ilimitada de amor e compaixão, é um bem incomparável e o maior possível de toda a existência humana. Os sofrimentos dessa vida não são absolutamente nada comparados ao que seria o amor de Deus uma vez que estivessemos em uma relação livre com ele. Então uma pessoa que, no fim das contas, acaba conhecendo a Deus poderia dizer, sem chances de arrependimento, não importa o quão dura fosse sua vida, não importa quantas dificuldades passou, “Deus é bom” – justamente pelo fato que nenhum mal chega perto de se equiparar ao conhecimento de Deus.

d. O conhecimento de Deus se estende na vida eterna: Segundo o Cristianismo, essa não é a nossa única vida. Todos aqueles que confiam e dedicam sua salvação à Deus terão acesso à vida eterna de uma felicidade incomparável. E quanto mais tempo passamos na eternidade, mais e mais aqueles momentos de sofrimento parecem apenas um momento minúsculo e infinitamente insignificante perto do que teríamos na nova situação. Imagine um mendigo que precise trabalhar duro durante um minuto para ficar para sempre numa ilha paradisíaca. Por maior que seja sua aversão ao trabalho, os benefícios fariam impossível ele reclamar desse breve momento de dedicação.

e. Crianças e mal natural: Muitos perguntam: “Mas e as crianças que morrem em desastres ou semelhantes?”. Observe que essa reclamação, como explicado acima, só serviria no materialismo, pois aí sim seria a única vida que temos. Não sendo esse o caso, podemos reclamar de uma criança que viveu pouco inevitavelmente? Talvez fosse o momento de Deus levá-las. Também é possível que nosso mundo esteja ajustado com uma quantidade de sofrimento (natural ou não) que permita o maior número de pessoas possível livremente aceitar Deus – poderia ser o caso de que menos pessoas (incluindo as próprias crianças) livremente iriam se salvar se elas não partissem agora e que mais pessoas entrariam na perdição eterna. Então, lembrando dos itens acima, esse seria um motivo justificável para crianças que vivem pouco.

f. Deus não fica parado – ao contrário, ele trabalha pela salvação de todos: de acordo com a visão de mundo cristã, Deus não fica parado olhando para as coisas ruins que acontecem aqui embaixo e dizendo: “Hm, é, isso aí.” Pelo contrário. Ele teria um papel ativo todos os dias tentando fazer as pessoas aceitá-lo e aproveitando oportunidades para pessoas abertas a Ele se aproximarem. Ele também aceitou sofrer numa escala sem precedentes para pagar nossos pecados. Então dependeria de nós aceitarmos sua redenção e seu convite – e nos livrarmos do mal que nos aflige para sempre.

Essas são algumas abordagens teológicas para a existência do Mal. Sempre haverá mais alguma teodicéia ou defesa que merecam notas – e você pode ler mais livros e pesquisá-las. Por enquanto, o meu caso está encerrado.

Fonte: quebrandoneoateismo.com.br

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Paradoxo de Epicuro/Problema do Mal – Parte II



       [Antes de ler esse post, recomenda-se ler o anterior que lida com o Problema Lógico do Mal]


3. Problema Probabilístico do Mal:
 

O problema probabilístico (ou evidencial) do mal, ao contrário do problema lógico que trata da impossibilidade, muda para a questão da probabilidade de Deus existir. É improvável que Deus exista, se o Mal existe; e se é improvável, então não podemos racionalmente acreditar nEle.

Mas note que há muitas coisas que mesmo improváveis é  possível acreditar racionalmente. Por exemplo: é bastante improvável que eu consiga dois “Royal Flush” consecutivos no Poker. Mas eu levanto as cartas e vejo que tenho um Royal Flush. Eu levanto novamente na próxima rodada e percebo que tenho outro. Então se eu experienciar que tive essas cartas, eu posso racionalmente acreditar que essas foram as minhas mãos, mesmo com a probabilidade intrínseca sendo baixa. Da mesma forma, se fosse o caso do Problema Probabilístico funcionar, se eu experienciar Deus ou tiver um outro argumento para a existência de Deus (como a existência do próprio Mal, referenciado no primeiro artigo!) eu ainda poderia acreditar nEle sem me preocupar com o Problema Probabilístico.

Fazer essa concessão é uma forma bastante ruim de começar um argumento e o restante dele, ao meu ver, não consegue nenhum sucesso maior.

Vamos ao argumento: ele sentencia que existem eventos ruins. Vamos apenas chamá-los (individualmente) de “E”.

E
pode ser:
  • (a) O problema da pobreza na África;
  • (b) O problema da existência de doenças;
  • (c) Ou qualquer outra coisa que seja dita como mal;
E dada a mente de Deus (com suas razões e motivos – vamos chamar isso de nosso conhecimento de “background”), seria pouco provável ele existir se E (a, b ou c) existir. Vamos organizar o raciocínio: Probabilidade de Deus existir dado a existência de um evento E de acordo com nosso conhecimento de backgroundB” = Pr D (E & B).

Mas observe que a variável determinante nesse cálculo é “B” (Pr D (E & B)). Pr D é o que estamos discutindo; E é apenas a declaração da existência de algo; então tudo se resume a justificar que B é baixo para Pr D também ser.

Mas como alguém pode logicamente justificar B? Como, dentro das nossas limitações epistemológicas de capacidade, espaço e tempo, nós podemos julgar e justificar que se não encontramos um motivo imediato, logo Deus não deve ter nenhum?

Para melhor ilustrar meu ponto, pense em uma geração de macacos um pouco mais evoluídos (mas não muito). Ele é capaz de formular algumas sentenças na sua mente, reconhecer objetos e tem um valor semântico mental. Os seres humanos foram exterminados e um desses macacos – vamos dizer não um ordinário, mas o mais inteligente e habilidoso dentre esses – está explorando cidades em ruínas. Ele eventualmente acaba visitando um departamento de matemática, onde acha um livro de cálculo infinitesimal.

Não é preciso dizer – dentro de sua limitação de capacidade – que ele está muito longe de compreender um cálculo infinitesimal: “Eu não consigo entender nada do que está escrito aqui. E eu sou o mais inteligente de toda a minha espécie. Logo (ou provavelmente), isso não tem sentido”. O nosso amigo primata estaria correto? Não. Somente pelo fato de que sua capacidade mental não é a mesma de um Isaac Newton para compreender apropriadamente o cálculo, não segue não há (ou provavelmente não há) sentido.

Ele deveria reconhecer sua limitação antes  de fazer julgamentos de probabilidade.

Vamos pensar em mais um exemplo. Suponha que você encontre seu vizinho e o filho dele no elevador. O garoto está chorando e diz que o pai o puniu por ele ter andado lá fora. Você pergunta o porquê. “Bom, eu tive minhas razões para isso”.

Não surpreendente, você não consegue achar nenhuma razão para tal. E daí segue que NÃO há nenhuma razão? Como você pode saber os motivos, as razões e o contexto onde esse ato aconteceu? A menos que você tenha acesso a um scan mental daquele homem, então você não está em posição para fazer um julgamento justificado de B nesse caso, sendo que o pai não é sequer superior a você, mas está na mesma escala de capacidade (em média).

E nós estamos muito mais próximos, analogicamente, do primata para homem na relação homem-Deus do que para situações de dois seres humanos iguais. Se há um ser todo sábio e onisciente, ele está muito, muito longe da nossa capacidade para sabermos o quanto é necessário para efeitos que seriam desejáveis, quaisquer que eles sejam.

Victor Stenger comete esse erro no seu “God, The Failed Hypothesis”, ao responder que a idéia de que o mal pode ajudar a provocar algum desenvolvimento humano, dizendo: “Isso poderia ser alcançado com muito menos sofrimento do que o existente no mundo atual.” Mas como fazer esse julgamento se nós não temos as informações de input (entrada) output (saída – o resultado da existência do mal) para testar e saber se a quantidade iria mudar, continuar a mesma ou não? Nós adoramos ser céticos, menos quando é para presumir um argumento contra Deus, não é verdade?

Então, como não temos controle epistemológico da variável determinante, então NÃO podemos fazer qualquer julgamento de probabilidade.

E, assim, a versão probabilística – que depende unicamente da justificação apropriada de “B” – também apresenta sérios defeitos, tal qual a versão lógica – ou talvez defeitos até piores. Mesmo ateus como William Rowe admitem a fraqueza do argumento, como mencionado em um artigo: “Eu já penso que esse argumento é, na melhor das hipóteses, um argumento fraco.”1

Em resumo:
  • (1) O problema probabilistico (ou evidencial) do mal pode ser enunciado como: Pr D (E & B) é baixo.
  • (2) Para saber se é baixo, precisamos de uma justificativa apropriada e forte de que B, a variável determinante, é baixa.
  • (3) Não estamos em posição de justificar B apropriadamente;
  • (4) Portanto, o problema probabilístico falha;
  • (5) Mesmo se funcionasse, ainda seria racionalmente possível acreditar em Deus como é possível acreditar em outros eventos pouco prováveis;
  • (6) Logo, não há razões para pensar que ele funciona e há razões (como o reconhecimento da existência objetiva do próprio Mal) que ele é derrotável;
4. Conclusão:

Você pode se sentir de forma ruim ou ter problemas emocionais com o Paradoxo de Epicuro. Mas isso nem de longe o torna mais lógico ou racional. O que devemos nos perguntar sempre que observarmos um evento é: “É possível que para “E” a existência de Deus seja real?”. Nós vimos nesses dois artigos que há motivos para justificar que sim e que não há bons motivos para justificar que não.

Caso (quase) encerrado.


Fonte: quebrandoneoateismo

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Referências

¹ “The Evidential Argument from Evil: A Second Look,” p. 270.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Paradoxo de Epicuro/Problema do Mal - Parte I


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[Resolvi, nessa ocasião, postar a série de textos que Snowball, do blog quebrandoneoateísmo tratou sobre o Problema do Mal. Será dividido em três partes, e para um melhor entendimento, sugiro que acompanhe desde a primeira. Boa leitura!]

Um dos problemas clássicos oferecido pelos defensores do ateísmo é o Paradoxo de Epicuro. Basicamente, ele sustenta que há algum tipo de contradição entre a existência de Deus e a existência do Mal. Estou certo que todos os que estão aqui já devem ter uma idéia do que ele significa. Nesse artigo, farei uma análise da relação Deus e o Mal.

Eu costumo fazer posts mais diretos, mas como esse é um desafio filosófico real, não uma imbecilidade do tipo “Monstro do Espaguete Voador” (que, incrivelmente, alguns ainda levam a sério), vou me alongar um pouco. Tentarei ser o mais simples que puder, mas não mais simples do que isso.

Se você quiser, pode pular diretamente (não recomendo, mas…) para as seções 2) e 3) onde eu lido com o Paradoxo. Se estiver ainda com mais pressa, leia a introdução que faço dentro de 2) e 3) e depois o resumo final dos erros e já terá uma base para entender.

Agora vamos ao texto:
1. Duas Observações Preliminares

Antes de começar a argumentação, duas observações são importantes para melhor entendimento da argumentação:
  • O que são Mundos possíveis?
O conceito de Mundos Possíveis está relacionado à lógica modal. Basicamente, temos que fazer a distinção entre o possível e o necessário.

Uma afirmação possível é uma que contenha um enunciado cujo valor de verdade não seja contraditório. Ou seja, algo possível é algo que não é necessariamente falso: pode ser ou não ser. Pense da idéia de “É possível que…” que entenderá facilmente. José Serra não ganhou as eleições. Era possível, mas ele não ganhou. A idéia de José Serra ganhar a eleição de 2010 não se atualizou na realidade, mas não é necessariamente falsa. Podemos descrever um mundo hipotético desse jeito sem criar nenhuma contradição. Uma Terra quadrada também é possível. Não é verdade, mas é possível. Todos os coelhos serem vermelhos também é uma possibilidade, embora não seja verdade no mundo real.

Já uma afirmação necessária é uma que contenha um enunciado que não pode ser nem possivelmente falso (se verdadeiro) nem possivelmente verdadeiro (se for falso). Ou é, ou não é. Por exemplo: um triângulo DEVE ter NECESSARIAMENTE 180º graus internos (esqueça as palavras e pense apenas nos conceitos abstratos). Isso é necessariamente verdadeiro. Um homem casado (não uma pessoa específica, mas o conceito abstrato desse termo, novamente) deve necessariamente não ser solteiro; se for solteiro, não é casado. Uma afirmação contraditória do tipo “Esse homem casado é solteiro” é necessariamente falsa e não faz parte de nenhum mundo possível.

Então, um mundo possível é uma descrição da realidade que contenha enunciados, como:
  • Mundo Possível MP1: S0 & S1 & S2 & S3 & S4
  • Mundo Possível MP2: S0 & S1 & S2 & S5 & S6
  • Mundo Possível MP3: S0 & S1 & S2 & S7 & S8
Vamos verificar quais são essas afirmações. A primeira delas é S0:
  • S0: A proposição 2 +2 =4 é verdadeira.
A proposição S0 é necessariamente verdadeira (pois nunca é possivelmente falsa). Ela faz parte de TODOS os mundos possíveis. Não existe nenhum mundo possível onde 2 + 2 = 4 não seja verdade (vou pedir mais uma vez: não pense nos algarismos e nos sinais gráficos, mas no conceito).

Prosseguindo:
  • S1: Existe um país chamado P1.
  • S2: O País chamado P1 teve eleições no ano A1.
São duas afirmações possíveis, pois não são necessariamente falsas; o país P1 poderia ou não existir. Da mesma forma, poderia ou não ter feito eleições no ano A1.
Vamos considerar que S1 e S2 são possíveis e reais. De fato existem. S1 e S2 se desdobram em:
  • S3: O sujeito X1 venceu as eleições.
  • S4: O primeiro ano do governo de X1 foi marcado pelo fim dos concursos públicos.
Não há nada contraditório nas proposições S3 e S4. Elas poderiam muito bem ser verdades reais. Então o conjunto MP1 formado por {S0 & S1 & S2 & S3 & S4…} é um mundo possível.

Adiante, elas ainda poderiam se desdobrar em:
  • S5: O sujeito X1 venceu as eleições.
  • S6: O primeiro ano do governo de X1 foi marcado pelo aumento dos concursos públicos.
Também não há nada contraditório nas proposições S5 e S6. Então o conjunto MP2 formado por {S0 & S1 & S2 & S5 & S6…} também é um mundo possível. Pode ser que ele seja falso; mas ainda assim é um mundo possível.

Ou ainda:
  • S7: O sujeito X1 (concorrente direto de X2) venceu as eleições sozinho no primeiro turno e exerceu seu mandato;
  • S8: O sujeito X2 (concorrente direto de X1) venceu as eleições sozinho no primeiro turno e exerceu seu mandato;
Agora sim temos um problema; as proposições S7 e S8 não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Ou S7 é falso ou S8 é falso; não há como conciliar as duas afirmações, que são excludentes. Se um mundo possível é um mundo onde não há nenhuma contradição lógica entre duas proposições (seja ela interna para uma mesma afirmação ou entre si correlacionadas como no exemplo), então o mundo MP3 formado pelo conjunto {S0 & S1 & S2 & S7 & S8…} NÃO é um mundo possível.

Se quisermos estabelecer uma contradição, então temos que mostrar que em NENHUM mundo possível comporta duas proposições. A conclusão é obrigatória e não tem nenhuma escapatória lógica. Se houver uma outra saída, então não há mais a contradição lógica e temos um mundo possível novamente.

Passamos ao próximo esclarecimento.
  • De quem é o ônus da prova no Problema do Mal?
O ônus da prova no Problema do Mal é do ateu que o propõe, não do teísta. O Paradoxo de Epicuro é utilizado com o objetivo de mostrar que Deus não pode existir ou que é irracional acreditar que Deus exista dado o Paradoxo. O que um teísta tem que fazer é apenas mostrar que o Problema do Mal não implica na conclusão “Deus não existe”, mostrando algumas saídas. Não é preciso provar que tais coisas realmente sejam assim como descritas na sua saída, a princípio.

Lembre, por exemplo, do post que fiz sobre Cristina Rad. Ela fazia a acusação, por exemplo, dizendo: “Como é possível que alguém seja feliz no Céu se seu filho está no Inferno?”. Meu trabalho era apenas mostrar um caminho: “Bem, talvez as pessoas no Céu entendam os parâmetros de Deus e aprendam a conviver com isso”. Não é preciso ser verdade para  a impossibilidade do Céu ficar refutada. A mera saída já tornaria a hipótese possível e não contraditória.

O mesmo vale para o Problema do Mal.

2. Problema Lógico do Mal

Agora vamos ao Problema do Mal. Eu gostaria de falar sobre o desafio de um ateu dar uma definição objetiva para a existência do Mal sem usar uma base transcendental, mas, por questões de espaço, vou pular essa parte.

O Problema Lógico do Mal consiste em dizer que há uma contradição lógica entre Deus e o Mal; ou seja, não há nenhum mundo possível entre que aceita ao mesmo tempo (1) “Deus existe” e (2) “O mal existe”.

Um é a negação de outro; o mal é uma prova necessária da inexistência de Deus. É uma contradição  simples e direta, nos moldes do que vimos acima. E, para desfazer uma contradição, basta achar uma terceira saída que seja logicamente possível.

Então, o que o ateu está querendo dizer, basicamente, é que qualquer teísta entra em um problema quando aceita essas duas proposições ao mesmo tempo:
  • 1. Deus existe;
  • 2. O mal existe;
Mas, pense um pouco. Perceba que não há nenhuma contradição explícita ou formal entre esses dois enunciados. Ele não é como:
  • S7: O sujeito X1 (concorrente direto de X2) venceu as eleições sozinho no primeiro turno e exerceu seu mandato;
  • S8: O sujeito X2 (concorrente direto de X1) venceu as eleições sozinho no primeiro turno e exerceu seu mandato;
Em S7 e S8, você lê e imediatamente percebe que as duas frases não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. A primeira é negação da segunda e a segunda é negação da primeira. A contradição é explicíta. Mas não está claro como o “1. Deus existe” e “2. O mal existe” poderiam ser análogas a isso.

Se não temos uma contradição explícita, então quer dizer que a nossa contradição, se existente, deve estar implícita. A correlação provavelmente estaria nos atributos de Deus – o fato de ele ser todo poderoso, todo bom e odiar o mal.

Então o silogismo melhor ficaria se expressado dessa maneira:
  • (3) Deus é todo poderoso, todo bom e odeia o mal;
  • (3.1) Se Deus é todo poderoso, então pode criar qualquer mundo que desejar;
  • (3.2) Se ele pode criar qualquer mundo que desejar, então ele iria preferir um mundo sem nenhum mal;
  • (4) Mas o mal existe;
  • (5) Logo, Deus não existe;
Para que o conjunto acima implique dedutivamente em uma contradição lógica, todas as premissas devem ser necessariamente verdadeiras.

Mas elas são? Se não forem, o problema lógico cai por terra.

Analisamos a seguir:
  • Proposição I: Se Deus existe, então ele pode criar qualquer mundo que desejar:
A idéia crucial para entender se Deus pode criar qualquer mundo que ele quiser é a idéia de mundos possíveis, explicada na introdução. Mundos possíveis se referem a uma descrição em proposições de um estado de coisas que poderia ou não ter sido. Pense nas seguintes proposições:
''Lula foi presidente do Brasil.
7 + 5 = 12
Uma criança pintou um quadrado desenhado de vermelho.''
Elas não só são idéias possíveis, mas como foram idéias reais. São idéias que realmente são verdadeiras, além de possuirem a propriedade de não serem necessariamente falsas (i.e, possíveis). Esse é, claramente, um tipo de mundo que Deus pode criar ou atualizar.

Mas Deus pode atualizar qualquer mundo? Pense nas proposições a seguir:
''O número natural 1 (um) foi presidente do Brasil.
7 + 5 = 99
Uma criança pintou um quadrado desenhado de círculo.''
Se pensarmos nos termos abstratos e não no simbolo social (porque é claro que “99” poderia ser o nosso “12”, se assim fosse nossa cultura) veremos que esses são mundos que Deus não pode atualizar ou não pode criar.

O número 1 (um) é um objeto abstrato; ele não tem corpo e não entra em relações causais. Já que para ocupar o cargo de presidente do Brasil é preciso poder causal, então o número natural 1 jamais poderia mandar no nosso país. A idéia é logicamente contraditória.

A conta 7 + 5 também não pode dar outro resultado que não seja 12.  É impossível que juntando cinco peças com outras sete de algo terminemos com noventa e nove.

E uma criança não pode “pintar” algo de “círculo”; círculo não é uma cor. Essa frase não possui, da mesma forma, sentido, sendo contraditória do ponto de vista lógico.

Disso concluimos que, portanto, nem todos os mundos são capazes de serem criados; e Deus não pode atualizar qualquer mundo que ele desejar. Esses não são mundos possíveis, pois contém proposições que são logicamente contraditórias e então necessariamente falsas (i.e., impossíveis). Uma vez que Deus não pode fazer o logicamente impossível, pois o logicamente impossível não é sequer  “algo” no grupo de “tudo que pode ser feito”  para contar dentro de todo poder (para uma visão desse assunto, ver meu artigo sobre o Paradoxo da Pedra).

Da mesma forma, não é logicamente possível causar ou fazer alguém livremente realizar uma ação. Pois ou ele realiza livremente ou ele foi causado para tanto; são duas idéias opostas.

Agora chegamos na defesa baseada no Livre Arbítrio (atenção: defesa – o que possivelmente poderia ser e não teodicéia – demonstração do que seria de fato).

Se é possível que existam seres com livre-arbítrio, significa que em cada situação possível A, B ou C eles iriam livremente responder de uma maneira.

Imaginemos uma situação A onde um homem chamado Charles recebe um presente. Considerando que é possível que Charles, na situação A, tenha livre-arbítrio, sabemos pela lei do excluído do meio que ou ele iria aceitar o presente (ação r que levaria ao mundo Mr) ou ele não iria aceitar o presente (ação t; levaria ao mundo Mt).

Então numa dada situação A, teríamos duas daquilo que vamos chamar de “contrafactuais da liberdade”. E uma delas, acontecendo A, teria que ser verdade. Ou (r) vai ter valor de verdade:
  • (r) Charles, se acionado na situação A, vai livremente agir para aceitar um presente (levando a um mundo Mr);
Ou (t) vai ter valor de verdade:
  • (t) Charles, se acionado na situação A, vai livremente agir para não aceitar um presente (levando a um mundo Mt);
Em primeiro lugar, Deus não pode atualizar um mundo onde (r) e (t) sejam verdadeiros ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Se A, então uma delas têm valor de verdade e a outra é falsa. Esse é mais um mundo que Deus não pode atualizar.

Se (t) tem valor de verdade e Charles, estando na situação A, iria livremente recusar o presente, então Deus não pode fazer com que Mr seja verdadeiro. E se (r) era verdadeiro e Charles, estando na situação A, iria livremente aceitar o presente, então Deus não pode criar Mt, onde Charles livremente rejeita o presente.

Depende de como Charles livremente responde em A.

Como só um dos dois pode ser verdade, há pelo menos um mundo que Deus não pode criar.

Mude essa situação para um ação de valor moral – o presente é, na verdade, uma propina do governo. Deus não pode causar Charles para fazer o certo se ele está em uma ação livre. Está na mãos de Charles escolher livremente fazer a coisa certa ou não. 

E assim então temos vários exemplos de mundos que Deus não pode criar (e sem que ele deixe de ser onipotente).

Então a primeira proposição não é necessariamente verdadeira; ou podemos ir além e dizer que ela é falsa.

O problema lógico do mal já perdeu uma de suas premissas.

Vamos considerar a segunda agora:
  • Proposição II: Podendo criar qualquer mundo que quiser, Deus escolheria um mundo sem nenhum mal:
Observe que a proposição II depende do antecedente que não é nada mais do que a proposição I. Mas já definimos que a proposição I não é necessariamente verdadeira, a dois já começa com uma falha fatal.

Em II, o que se postula é algo como um mundo em que Deus só permite várias escolhas entre boas opções. As pessoas não podem escolher o mal.

Mas, nesse caso, não haveria liberdade. Pense um pouco: imagine uma ditadura que faça eleições periódicas. Mas você só pode escolher entre vários generais do mesmo partido. Isso seria liberdade de escolha?  Não. O mesmo se aplica a Deus não permitir o mal.

E é possível que Deus permita e prefira a liberdade. Então a primeira opção cai por terra.

Talvez o ateu desista dessa versão e mude para a seguinte idéia: “Certo, se Deus não permitisse o mal, não haveria liberdade. Mas é possível que Deus crie um mundo onde as pessoas livremente escolhem apenas ações boas”.

Ele está certo. A princípio, um mundo onde as pessoas escolham apenas ações boas não é logicamente contraditório. Mas, no sentido contrário, é logicamente necessário que isso seja verdade? Ou isso pode ser possivelmente falso? Deus pode escolher um mundo sem nenhum mal, com as pessoas tendo a liberdade?

Talvez não. Imagine que para cada indivíduo criado há um conjunto completo de contrafactuais de liberdade como (t) e (r) mencionados acima. Em dadas situações ele sempre tomaria uma ação de liberdade descrita nos contrafactuais: em A, ele escolheria ou (t) ou (r). Em B, ou (t1) ou (r1). Em C, ou (t2) ou (r2). E assim por diante englobando todas as situações possíveis.

Sendo que uma delas sempre vai possuir um valor de verdade sobre o que a pessoa faria livremente em cada situação. Se A, então (t). Se B, então (t1). Se C, então (r3) e etc.

Agora a idéia chave é a “Depravação através de todos os mundos”. Se cada indivíduo tem suas contrapartidas de liberdade, que possuem valor de verdade em dada situação A, B ou C, então é possível que elas existam de um jeito que, não importando o conjunto de situações que Deus coloque o indivíduo, se ele estiver com liberdade moral significante, ele sempre faria livremente pelo menos uma coisa errada. Então o mal seria possivelmente uma condição necessária da existência da liberdade moral.

E por que Deus não muda esses contrafactuais de liberdade ruins? Porque se ele mudasse não seria contrafactuais de liberdade. Voltaríamos então para o primeiro caso dos generais da Ditadura Militar.

Sim, é possível que “Charles” nunca faça a coisa errada. Mas Deus não pode fazer isso sem a ajuda de Charles. No fim das contas, depende apenas de Charles não cometer coisas ruins. Deus não pode obrigá-lo a livremente fazer a coisa certa.

Novamente, isso não significa que ele não é onipotente de forma alguma. Como vimos, Deus ser onipotente não significa que ele possa fazer alguém livremente escolher algo. Se ele causa as pessoas para fazer algo, então não estamos falando mais de “livremente”. E a questão toda depende da liberdade. E é possível que a humanidade seja como “Charles”: sempre escolheria livremente pelo menos algo errado.

Então suponha que você esteja dentro da situação acima. Nesse estado de coisas, não só é possível  que o mal seja uma condição necessária de agentes livres pelos valores de verdade dos contrafactuais de liberdade, mas que também ele acabe servindo a algum propósito maior. Então, servindo a um outro propósito de acesso a um bem maior, também não podemos afirmar que necessariamente Deus escolheria um mundo sem nenhum mal.

Alguém pode perguntar agora: “Ok. Esse é o mal moral. Mas e quanto ao mal natural?” É ao menos logicamente possível que o mal natural seja aparentemente restrito ao natural, tendo sua origem também em um mal moral derivado de agentes livres (como pecados, ação de pessoas não humanas, etc). Não há nada de contraditório nessa idéia, então ela é possível. E sendo possível, a argumentação acima se aplica igualmente. (Acho que são possíveis outras argumentações para o mal natural, mas, por questões de economia, essa mais simples será adotada agora).

Então nem a proposição I nem a proposição II são necessariamente verdadeiras e não ajudam mais do que as outras versões do problema lógico ajudavam.

Então o último silogismo também não sobrevive a defesa do Livre Arbítrio. É logicamente possível que as proposições estejam erradas:
  • (3) Deus é todo poderoso, todo bom e odeia o mal;
  • (3.1) Se Deus é todo poderoso, então pode criar qualquer mundo que desejar; –> FALSO. Há pelo menos alguns mundos que Deus não pode criar, mesmo que não deixe de ser onipotente.
  • (3.2) Se ele pode criar qualquer mundo que desejar, então ele iria preferir um mundo sem nenhum mal; –> FALSO. Depende do antecedente, que demonstramos não ser verdadeiro; também depende da impossibilidade do mal servir a um bem maior, que é uma opção logicamente possível;
  • (4) Mas o mal existe;
  • (5) Logo, Deus não existe; –> Falso. Não segue necessariamente. Portanto, a existência de Deus é compatível no nível lógico com a existência do Mal.
Então HÁ uma terceira saída possível para o silogismo. Podemos facilmente revertê-lo em:
  • (6) Deus é todo poderoso, todo bom e odeia o mal;
  • (7) Mas o mal existe;
  • (7.1) Deus é todo poderoso, mas isso não significa que ele pode criar mundos impossíveis;
  • (7.2) Se Deus não pode criar qualquer tipo de mundo, então é possível que ele prefira, dentro os mundos possíveis, um mundo que possua o mal;
  • (8) Então logicamente possível que Deus tenha razões morais
    suficientes para permitir o mal;
  • (9) Logo, a existência de Deus é ao menos logicamente compatível com a existência do Mal;
É muito fácil desfazer do problema lógico do mal. O mero fato de ser possível uma terceira saída não torna a conclusão obrigatória.  E então não segue lógica e necessariamente a incompatibilidade entre Deus e o mal e o ateu não consegue fazer um caso contra o teísmo.

Na verdade, podemos até mesmo rever a existência do mal, transformando em um ARGUMENTO para a existência de Deus!
  • (1) Se Deus não existir, então o mal (entendido como algo objetivo, não como apenas um desagrado mental) não existe;
  • (2) Mas todos nós sabemos que o Mal de fato existe;
  • (3) Logo, Deus existe;
Essa é só uma versão do argumento moral. Não vou discuti-la em mais detalhes, mas vocês pegaram o ponto.

Recapitulando, então a derrota do problema lógico do mal é definida pelo fato de que:
  • (a) Não há contradição explícita entre Deus e a existência do Mal;
  • (b) A contradição implícita pode ser desfeita exemplificando uma terceira saída possível, ou seja, a contradição baseada em premissas implicitas não é lógica e necessariamente verdadeira;
  • (c) A adição de mais premissas deve ser obrigatoriamente de premissas necessariamente verdadeiras;
  • (d) As premissas adicionais não são necessariamente verdadeiras;
  • (e) Se não são logica e necessariamente verdadeiras, então o problema lógico do mal, por tabela, é falho;
  • (f) Na verdade, o reconhecimento da existência objetiva do Mal é evidência a favor da idéia que Deus existe, não contra;
Se a argumentação acima for aceita como possível, não há nenhuma contradição. E, de fato, muitos ateus já aceitaram que não há contradição lógica entre Deus e o Mal. É ao menos possível a coexistência dos dois. Então o argumento foi modificado: dada a quantidade de mal no mundo, é improvável que Deus exista ou irracional acreditar que ele exista. Isso nos leva ao problema Probabilístico ou Evidencialista do Mal e não mais ao lógico, que está abandonado.

[Continua com a Versão Probabilistica do Mal]

Fonte: http://quebrandoneoateismo.com.br/