quinta-feira, 9 de junho de 2011

Argumento Moral para a existência de Deus


                                [Para mais informações veja ''Existência de Deus'', no Índice do blog]


Esse argumento se refere à distinção entre o certo e o errado, independente de lugar, época, cultura e opiniões. Um exemplo é afirmar que o antissemitismo nazista era moralmente errado, ainda que os idealizadores do holocausto acreditassem que era bom. E continuaria sendo errado, mesmo que os nazistas tivessem ganhado a Segunda Guerra Mundial e conseguissem exterminar ou fazer lavagem cerebral em todas as pessoas que não concordassem com eles. Mas, se Deus não existe, então os valores morais absolutos também não existem.

Muitos cristãos e ateus concordam neste ponto. Por exemplo, J. L. Mackie, da Universidade de Oxford, um dos mais influentes ateus do nosso tempo adimite: ''se existem valores morais absolutos, eles tornam mais provável a existência de Deus do que se não existissem'' [1]

Porém, a afim de desocnsiderar a existência de Deus, Mackie nega que existam valores morais absolutos: ''É fácil explicar esse senso moral como sendo produto espontâneo da evolução biológica e social'' [2]

Michael Ruse, filósofo da ciência, concorda e explica: ''A moralidade é uma adaptação biológica, da mesma forma que mãos, pés, e dentes. (...) A moralidade é apenas uma ferramente de sobrevivência e reprodução. E qualquer sentido mais profundo é ilusório'' [3]

Friedrich Nietzche, proeminente ateísta do século XIX que anunciou a morte de Deus, entendeu que essa morte significava a destruíção de todo o sentido e valor da vida. E eu acredito que Nietzche estava certo.

Entretanto, é preciso esclarecer uma questão fundamental, e essa questão não é: ''Devemos acreditar em Deus para ter uma vida moral?'', pois não estou afirmando que devemos. Nem tampouco a questão é: ''Podemos reconhecer valores morais objetivos sem acreditar em Deus?'', pois acredito que podemos.

Antes, a questão fundamental é: ''Se Deus não existe, como afirmar a existência de valores morais absolutos?'' Se Deus não existe, como afirma Mackie e Ruse, então não vejo razão para considerar a objetividade da moralidade humana.

Afinal de contas, se Deus não existe, o que torna os seres humanos tão especiais? Neste caso, seriamos apenas resultados de um acidente da natureza, criaturas imperfeitas evoluindo em uma minúscula partícula de pó perdida em um canto qualquer de um Universo hostil e negligente, fadados a perecer em um espaço relativamente curto de tempo.

Na cosmovisão ateísta, o estupro, era considerado algo desvantajoso do ponto de vista social, de modo que se tornou tabu durante o curso da evolução. Essa concepção, todavia, nada contribui para demonstrar que o estupro é uma perversidade moral. Excetuando-se as consequências sociais, a cosmovisão ateísta não oferece nenhum apoio para afirmar que o estupro é algo absolutamente errado. Se Deus não existe, então não há referencial de padrões morais absolutos ao qual submeter nossa consciência.

Mas a verdade, porém, é esta: valores morais absolutos existem de fato, algo que todos reconhecemos em nossa consciência. Não há nenhuma razão para negarmos a realidade desses valores absolutos, assim como não há razão para nagarmos a realidade objetiva do mundo material.

O raciocício exposto por Ruse apenas prova, na melhor das hipóteses, que evoluímos em nossa percepção subjetiva dos valores morais absolutos (epistemologia). Ora, se os valores morais estão sendo descobertos gradualmente, e não inventados, nossa percepção gradual e falível da esfera moral em nada altera sua realidade objetiva (ontologia), assim como nossa percepção gradual e falível do Universo físico não altera a realidade objetiva da matéria.

A maioria das pessoas concorda com a existência de valores morais absolutos e o próprio Ruse confessa: ''O homem que acredita que estuprar criançinhas é algo moralmente aceitável está tão errado quanto quem afirma que 2+2=5'' [4]

Estupro, turtura, e abuso de crianças não são apenas comportamentos socialmente inaceitáveis: são abominações morais. Em contrapartida, o amor, a lealdade, e o sacrifício são virtudes morais verdadeiramente boas. Portanto, se entendemos que existem valores morais absolutos e que estes não podem existir sem Deus, a conclusão lógica e incontestável é que Deus existe. Esse argumento pode ser resumido da seguinte maneira:

1. Se Deus não existe, então os valores morais absolutos também não existem.
2. Contudo, sabemos que existem valores morais absolutos.
3. Portanto, Deus existe.

______________
Referências

[1] J. L. Mackie, The Miracle of Theism, Oxford: Clarendon Press, 1982, pp. 115-16
[2] Idem pg. 117-118
[3] Michael Ruse, "Evolutionary Theory and Christian Ethics", The Darwinian Paradigm, London: Routledge, 1989, pp. 262-269
[4] Michael Ruse,
Darwinism Defended, London: Addison-Wesley, 1982, p. 275

7 comentários:

  1. Estes valores crescem quando atrelados à concepção e leis humanas, entretanto, não há meios para se negar ferrenhamente existência.

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  2. Adorei o texto!!! Vou refletir em cima dele!! Ótimo blog!!! Prabéns!!!

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  3. Pega a moral no tempo de Jesus e compara com a de agora, onde está a moral absoluta?

    Onde na biblia "Deus" explicava como cuidar do seu escravo.

    Moral é cultural e temporal, compara a moral brasileira com a de paises como a Holanda ou Suiça onde a maioria é ateia, onde é melhor pra se viver?

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  4. Pega a moral no tempo de Jesus e compara com a de agora, onde está a moral absoluta?

    Primeiro, a cultura ocidental é fundamentada na moral cristã. Segundo, mesmo que haja diferenças entre a moralidade ensinada por Cristo, e a que os homens praticam hoje, isso, no máximo, mostra que a ''lei moral''está sendo violada, e não que ela é relativa á época.

    Onde na biblia "Deus" explicava como cuidar do seu escravo.

    Isso é uma afirmação ou uma pergunta?

    Moral é cultural e temporal, compara a moral brasileira com a de paises como a Holanda ou Suiça onde a maioria é ateia, onde é melhor pra se viver?

    Primeiro, ainda que algumas culturas tenha um tipo de moralidade diferente da nossa, nunca, nenhum povo ou cultura chegou a ter uma moralidade que se distinguisse por completo.

    Tanto aqui, como na Rússia ou na Holanda, estuprar é errado, maltratar crianças é errado. traíção é algo deplorável tanto lá quanto aqui, e nem preciso dizer quanto ao assassinato de inocentes, e espancamento de idosos.

    Agora, amor, compaixão, sinceridade, companheirismo, é, e sempre foi admirado por todas as culturas e povos, ainda que haja divergências em certos aspéctos morais.

    isso não prova que a moralidade é relativa, apenas mostra ou que algumas ações morais não são de fácil compreensão (por isso a divergência), e/ou que a moralidade é violada.

    Finalmente, aquele que alega que a moralidade é relativa e subjetiva, se contradiz em suas reações, quando tratado de modo injusto.

    A moralidade, na teoria, é fácil de ser relativizada, mas, na prática, é impossível

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  5. Não é necessario Deus, religião nada do genero para que as pessoas sejam boas, se vc precisa de um deus vingativo que te impeça de fazer algo com medo da puniçao vc não é uma boa pessoa.

    Como eu disse antes compara o IDH de paises cristãos com os paises de maioria ateia.

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  6. Não é necessario Deus, religião nada do genero para que as pessoas sejam boas, se vc precisa de um deus vingativo que te impeça de fazer algo com medo da puniçao vc não é uma boa pessoa.

    Primeiramente, aonde eu afirmei que Deus é NECESSÁRIO para que as pessoas sejam boas?

    Eu disse, no texto que, se Deus NÃO EXISTE, a moralidade fica sem objetividade. Leia direito.

    Segundo, Deus não IMPEDE NINGUÉM de fazer nada - é isso que chamamos LIVRE ARBÍTRIO.


    Como eu disse antes compara o IDH de paises cristãos com os paises de maioria ateia.


    E daí? Isso prova o quê? Que Deus não existe e que o ateísmo é correto?

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